Era uma noite como outra qualquer em Never Land, estava tudo calmo e tranquilo… Até a hora em que me lembrei de que precisava desligar a bomba d’água. É… a bomba d’água, aquela que fica lá fora…
Tentei acender as luzes da varanda, mas nenhuma funcionou. Liguei então um abajur e o coloquei do lado de fora, como costumamos fazer quando isso acontece, mas logo veio um discreto barulho seguido de um estouro, e lá se foi a lâmpada.
Comecei a correr atrás de uma lanterna, até achei uma, mas as pilhas não funcionavam… Já não via mais saída… foi quando olhei para a mesa da sala e vi uma vela. “Perfeito” pensei. Acendi a vela, coloquei o celular no bolso [claro, se eu sofresse algum acidente no meio do caminho teria como pedir ajuda] e fui à luta.
Estava um breu típico das noites de inverno aqui em Never Land, havia um pouco de neblina também. Fui tentando iluminar o caminho, sem sucesso, e descendo as escadas… rezando para que não tropeçasse. Cheguei na parte de baixo, mas ainda faltava meio caminho a ser percorrido, foi quando me convenci de que a vela não estava adiantando de nada no meio daquela escuridão toda. Então peguei meu celular, na intenção de iluminar melhor aquele caminho nebuloso. Assim que o peguei, vi o relógio mudando a hora, era meia-noite em ponto!
Me vi ali parada, no meio do breu, com uma vela acesa na mão à meia-noite em ponto.
Eis que ouço um barulho estranho, e sinto um vento rebater nas minhas costas. O vento veio com tamanha força, que apagou a vela. Fiquei completamente sem ação. Comecei a sentir um arrepio, daqueles que sobem pela espinha e vão nos tomando por inteiro…
Eu estava lá sozinha, no meio da escuridão, quando de repente vejo as luzes piscarem, duas vezes, até se apagarem de vez. Mas enquanto piscavam, pude notar que havia alguém não muito longe de mim, parado. Nunca senti tanto medo em toda minha vida. Nessa hora a bomba parou, sozinha.
Não sabia para onde correr, estava comletamente imóvel, sem saber o que fazer. Comecei a sentir como se alguém estivesse me rodeando, e um vento quente veio na direção da minha nuca, me causando arrepios desesperados, fiquei absolutamente estática, rezando para que aquilo tudo não passasse de um sonho nefasto.
Mas não, não era um mero pesadelo… Era Samira quem estava lá, a moradora mais antiga de Never Land. Ao que consta, ela morreu afogada na piscina da casa, que fica ao lado da bomba d’água. Mas até hoje eu nunca a tinha visto assim, tão de perto…
Fui então andando vagarosamente em direção às escadas, sem lhe dar as costas. Consegui alcançar o primeiro degrau, depois do segundo já me vi correndo pela porta adentro, os cachorros começaram a latir feito loucos. Meus olhos já não podiam mais alcançar Samira, e eu não sabia se isso era bom ou ruim… Fechei as portas e me deitei no chão, no meio dos cachorros, onde estou encolhida até agora…